A VIRADA DO ANO E AS "NOVAS" RESOLUÇÕES

Em termos astronômicos, ano novo não passa de mais uma das incontáveis voltas que o planeta já deu em torno de uma estrela gigante que segura tudo com sua força gravitacional absurda.

Mas nossa existência não se resume à física, aos termos astronômicos e à pura realidade do cotidiano. Não! Nossa existência depende de perspectivas, de sonhos, de motivações.

E, nestes termos, ano novo é sinônimo de reflexões, de retrospectivas, de novas perspectivas. É da nossa natureza humana balancearmos as coisas, planejando um futuro melhor, relembrando o que foi bom e tentando aprender com os erros cometidos para não repeti-los no ano vindouro. É tempo de novas resoluções.

Claro que, na prática, as resoluções de ano novo quase não são cumpridas, e o ano novo tende a ser igual o ano que está morrendo de velho (que, por sinal, acabou se saindo "muito parecido" com o ano passado, quiçá muitos anos passados). Costumamos planejar muito e fazer pouco, e o nosso "livre arbítrio" acaba sendo engessado pelo cotidiano e pelas inúmeras "prisões" e limites que traçamos.

Não nos mudamos de cidade ou de país por causa de um emprego que não gostamos. Não "alcançamos" aquele corpo sonhado, aquele shape dos atores de Hollywood, porque não temos disciplina para manter as atividades físicas em dia combinadas com as restrições alimentares adequadas. Não realizamos um sonho de empreender, de abrir um negócio bacana, porque... bem, vivemos num país desestimulante, em que o empreendedor é visto como o vilão abusador do pobre trabalhador e o Estado fica à espreita, como um urubu metafórico, querendo uma fatia bem carnuda do (seu) faturamento sem entregar absolutamente nada em troca.

Parece que, depois de uma certa idade, somos seres humanos já construídos na base das experiências e de ideologias restritivas. Qualquer tentativa de "reforma" representaria, primeiro, uma "demolição" da parte ruim da nossa personalidade para, depois, investir tempo, muito esforço e, até, dinheiro, para reformar o que deve ser reformado. Nossa mentalidade acaba sendo limitada ao cotidiano. Nossos hábitos são repetidos como se fossem tarefas atribuídas aos "habitantes" do submundo dos gregos. Os vícios, os defeitos de caráter, o mal que não queremos fazer e fazemos. Não mudamos praticamente nada... e, mesmo assim, ansiamos por mudanças de vida radicais.

Daí, temos aquela frase atribuída à Albert Einstein:

"Insanidade é querer resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual"

Ok! O gênio nunca disse nada disso (e nem era dado às mensagens motivacionais). Mas a frase até que traz uma baita duma verdade... e um tapa na nossa cara! Pois queremos, sim, resultados diferentes em muitos aspectos da nossa vida (emprego melhor, viajar mais, guardar mais dinheiro), sem mudar absolutamente nenhuma atitude. E, ainda que tenhamos um plano de ação aparentemente efetivo, tendemos a procrastinar sempre em prol da facilidade que é manter as coisas exatamente como estão. "Um dia em faço". "Um dia eu mudo". Sempre o estranho dia que nunca chega.


Bem... só que final de ano é tempo de novas resoluções; não de pessimismo e azedumes! Não gosto muito de postagens no estilo autoajuda, mas valem algumas dicas para começar a praticar já no primeiro dia do 2024:


. Primeiro, você precisa se aceitarVocê tem defeitos e limitações - e pronto! Coisa absolutamente normal e ninguém é perfeito (por mais que alguns até pareçam ser, especialmente no Instagram). Há sempre aquela tendência de nos compararmos com quem está "melhor" do que nós, mas muito deste "melhor" é cortina de fumaça. Apenas aparência. Ninguém tira selfie do fundo do poço e o que se posta nas redes sociais não condiz com o cotidiano das pessoas. Além disso, essa sua falta de auto-aceitação gera ansiedade, comparações malucas, perfeccionismo demais, muita autocobrança e frustrações.

. Segundo, faça planos viáveis. Querer dar passos maiores do que as próprias pernas sempre resultam em decepções. O que vivenciamos e o que idealizamos acabam nos "amarrando" muito e não adianta sair tentando quebrar os grilhões com metas irrealizáveis. O coaching que você segue vai dizer que você precisa de mais ambição, de desafios maiores, que você é capaz de ficar milionário em poucos minutos (desde que compre o "curso" dele). Balela! Faça planos viáveis, daqueles que podem ser realizados em algumas horas ou em poucos dias. Comece lendo um livro de poucas páginas, fazendo caminhadas de vinte minutos ao por do sol, reservando um pouco mais das economias, alimentando-se um pouco melhor etc. Nada "de supetão", pegando atalhos e fazendo coisas absurdas. Tudo na calma e na tranquilidade, com um PASSO CURTO de cada vez.

. Terceiro, identifique o que é desnecessário e o elimine da sua vida. Se parar pra ver, tem muita coisa que você faz, que você compra, que você acredita que seja importante, que, na prática, não passa de lixo, de desperdício de tempo, de disposição e de grana. Tentar agradar a todos, por exemplo, é um hábito desnecessário, pois, no fim, nunca agradamos. Não saber dizer "não" (ou, pelo menos, dizer "sim", mas com condições) é outro hábito desnecessário que só faz com que você seja aquele bestão que os outros se aproveitam. Comprar aquela futilidade na Shopee porque está "baratinho" só vai entulhar a sua casa com mais futilidades compradas na Shopee. E ambientes caseiros poluídos, com muita "informação", muita bagunça, faz mal ao emocional. Além disso, futilidades demais levam à grana de menos. Defenestre isso tudo!

. Quarto, seja grato, mas não conformado. Você chegou a algum lugar, conquistou muitas coisas ao longo da vida. E essas coisas são motivos de gratidão, mesmo que te pareçam pequenas e sem valor. Você sabe que muitos gostariam de estar no seu lugar, com o seu emprego e usufruindo das suas coisas. E cada conquista representou um esforço recompensado que só você sabe como foi. Nada disso, porém, deve te manter preso numa zona de conforto (a menos, claro, que a "zona" esteja realmente bem confortável e tudo esteja saindo nos conformes). Sempre dá pra fazer um pouco mais por você mesmo. Aceite-se, seja grato, mas faça planos viáveis para mudar o que não está indo bem.

. Quinto, volte a sonhar. Com o tempo, vamos deixando de fazer coisas que, antes, nos motivavam a "evoluir". Claro que, na juventude, nossos sonhos eram "quase malucos": queríamos ser jogadores de futebol de grandes clubes, fazer turnês mundiais com uma banda prestigiada, ser estrelas do cinema, artistas de renome. O tempo passou e é bem provável que nenhum destes sonhos vá se realizar. Mas não significa que temos de abandonar o que gostávamos de fazer, nem que seja por hobby. E não se engane: um hobby é mais do que mera diversão! É um passatempo muito mais produtivo do que as horas que você já perde acessando as redes sociais. A música, a arte, o esporte nos motivam a estudar, a praticar, a por os pensamentos nos lugares certos, até a interagirmos com pessoas que gostam das mesmas coisas que nós, inserindo-nos em círculos sociais diferentes. Quem sabe, ainda dê tempo de realizar aquele sonho de infância e passar a viver do que ama fazer? A vida (ainda) pode surpreender.

. Sexto, busque a felicidade. Parece óbvio demais (porque é!), mas o que o ser humano realmente procura é ser feliz. Não fama e fortuna. Não "prazeres mundanos". A felicidade começa no autoconhecimento. Em descobrir e aceitar suas fraquezas e se orgulhar, sem soberbas, das coisas que você faz bem. A felicidade está em se permitir experimentar coisas que trarão boas lembranças. Está em valorizar-se mais e valorizar as pessoas que te fazem bem, afastando-se das pessoas que te fazem mal; está nas pequenas conquistas... é uma coisa "quase filosófica", mas não é preciso estudar Aristóteles ou Epicuro pra entender. No fundo, sabemos o que temos de fazer para sermos felizes.

. Sétimo...

... um FELIZ ANO NOVO pra você, meu amigo leitor!

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