PETRA - A DISCOGRAFIA
PETRA praticamente dispensa apresentações, especialmente entre os "jovens" cristãos quarentenários. Trata-se da mais longeva, aclamada, premiada e influenciadora banda de rock cristão da história. Foi fundada no distante 1972, por Bob Hartman e Greg Hough, durante a onda The Jesus Movement (uma espécie de contraposição ao movimento hippie) e "encerrada" em 2005... embora, na prática, PETRA continue se reunindo esporadicamente para apresentações ao vivo - como a histórica turnê PETRA 50 YEARS, que rodou o mundo e se encerrou precisamente aqui no Brasil, neste dia 02 de dezembro.
Dos anos 80 a 2000, PETRA tinha o saudável hábito de lançar, praticamente, um álbum novo por ano. Se contar todos os álbuns de estúdio, ao vivo e coletâneas oficiais, são mais de 40 discos na bagagem!! Isso, em 51 anos de carreira... e considerando-se alguns hiatos.
Sem mais delongas, senhoras e senhores, apresentamos um pouco de história da discografia PETRA!
PETRA (1974)
Aqui, temos uma mistura de estilos musicais, especialmente o southern rock e o blues, com Hartman e Hough revezando nos vocais. Apesar de as vozes deixarem um pouco a desejar (não era o forte dos guitarristas), as faixas são instrumentalmente bem executadas para a época. Wake Up, Walkin' In The Light e I'm Not Ashamed são bem interessantes e Backslidin' Blues é, provavelmente, o primeiro blues cristão gravado em disco de vinil.
O álbum não fez sucesso comercial algum, mas o rock cristão ainda sofria muito preconceito, tanto no meio evangélico quanto secular.
COME AND JOIN US (1977)
É o primeiro trabalho do PETRA a receber algum reconhecimento, embora ainda modesto. Muitos até consideram este álbum a verdadeira estreia do PETRA no mercado fonográfico. Parte do sucesso foi devido ao cover da banda secular Argent: God Gave Rock and Roll to You, com mudanças significativas na letra. Uma curiosidade: o próprio álbum deveria se chamar GOD GAVE ROCK AND ROLL TO YOU, mas a ideia foi barrada pela Myrrh Records por achar o título polêmico para os cristãos conservadores. Uma música chamada Killing My Old Man foi composta e gravada, mas a Myrrs decidiu excluir do álbum pelo mesmo motivo: "título polêmico".
Musicalmente, a banda mostrava uma boa evolução. Vocais aprimorados, solos interessantes. As faixas Without You I Would Surely Die e Woman Don't You Know são southern rock bem dinâmicos. Holy Ghost Power é um funk setentista bem legal.
WASHES WHITER THAN (1979)
O álbum é marcado por várias mudanças, com menos southern rock e músicas muito mais suaves. A faixa Why Should the Father Bother foi a primeira do PETRA a ser transmitida em rádio. I'm Thankful e Yahweh Love são lembradas até hoje, constando em algumas coletâneas. É, também, o primeiro álbum da "fase Greg X Volz", que passa a ser o vocalista principal.
Este trabalho, porém, desagradou a muitos dos antigos fãs da banda. Por outro lado, as músicas tocadas nas rádios ajudaram o PETRA a angariar novos fãs... embora não o suficiente para que o álbum fosse um sucesso comercial.
NEVER SAY DIE (1981)
Mesmo que não tenha sido isso o que aconteceu, o fato é que o título deste álbum descreve bem a situação: uma banda que não queria morrer. É neste trabalho que PETRA define seu estilo musical de uma vez, abraçando o hard rock. Além de Bob Hartman e Greg X Volz, entram em cena os excelentes músicos John Slick, no teclado, e Mark Kelly, no baixo (que, certamente, contribuíram muito para a necessária, e bem sucedida, repaginada do PETRA).
A faixa que abre o disco, The Coloring Song, parece alguma coisa que poderia estar no lento "Washes Whiter Than", mas foi o primeiro grande hit da banda, sendo tocado nas rádios e recebendo elogios da crítica. A música veio de uma antiga composição de Greg X Volz na banda E-Band. Without Him We Can Do Nothing, Angel of Light e Praise Ye the Lord já mostram um hard rock setentista dinâmico, com bons riffs, solos de guitarra e aqueles refrões que grudam na cabeça. É aqui, pela primeira vez, que aparece uma guitarra voadora gigante na arte de capa (uma "marca" que estaria presente em outras capas).
Bob Hartman afirmou, numa entrevista, que Never Say Die era o que ele queria ter feito desde Washes Whiter Than, mas temeu possíveis represálias de cristãos conservadores. Como o PETRA estava para acabar, e sem nada a perder, fez o que seu coração mandou. Inclusive, a "polêmica" Killing My Old Man, que a Myrrs não quis em Come and Join Us, está aqui.
O álbum atingiu o nº 29, do Top Contemporary Christian e os shows da banda começaram a atrair mais e mais jovens cristãos e não cristãos.
MORE POWER TO YA (1982)
Este é, provavelmente, o melhor trabalho com Greg X Volz. Um disco tão bom, que foi relançado em 2012, com o título "More Power To Ya: 30th Anniversary Edition", pela StarSong. O álbum atingiu o nº 03 do Top Inspirational Albums da Billboard. Além disso, um "tal" Louie Weaver assume a bateria, acabando por se tornar um dos membros mais constantes do PETRA por mais de 20 anos.
NOT OF THIS WORLD (1983)
O disco chegou ao nº 1 do Top Contemporary Christian e foi indicado ao Grammy Awards na categoria Best Gospel Performance (Duo Or Group). Trata-se, ainda, do primeiro disco internacional de rock cristão lançado no Brasil, com textos em português no álbum.
BEAT THE SYSTEM (1984)
Altamente influenciado pelo techno rock dos anos 80 - parte desta revolução se deve ao novo tecladista, John Lawry, que abusou de sintetizadores e de baterias eletrônicas - tudo soa meio "computadorizado" neste álbum, desde a faixa inicial, Beat The System, e, especialmente, em Computer Brain. Há, ainda, uma interessante regravação de God Gave Rock and Roll to You (muito diferente da versão de Come and Join Us). Adonai é uma das minhas músicas favoritas de toda a discografia do PETRA.
É um álbum estranho para ouvidos de roqueiros puristas, mas não deixa de ser bom. Inclusive, entrou na lista dos 500 melhores álbuns de todos os tempos da Música Cristã Contemporânea e indicado ao Grammy Award por Best Gospel Performance by a Duo or Group, em 1986.
A má notícia é que este seria o último trabalho de Greg X Volz, que saiu da banda por motivos pessoais.
BACK TO THE STREET (1986)
O álbum é bastante elogiado, atingindo o nº 4 do Top Contemporary Christian, com indicação ao Grammy Awards na categoria Best Gospel Performance (Duo Or Group). Além disso, em 2011, este disco entrou para o rol dos "500 melhores albuns de todos os tempos da Música Cristã Contemporânea". Ainda não é um dos trabalhos mais primorosos com John Schlitt, mas já marca uma nova fase de PETRA, consolidando-se como uma banda arena rock.
THIS MEANS WAR! (1987)
Aqui, vemos PETRA como uma banda consolidada e com uma formação estável. John Schlitt está muito bem situado em seu papel, mostrando uma extensão vocal bem melhor do que do álbum antecedente; enquanto Bob Hartman (guitarra), John Lawry (teclados), Mark Kelly (baixo) e Louie Weaver (bateria) continuam fazendo o que sabem fazer muito bem. O disco é excelente! Além da faixa de abertura, temos diversos hits arrebatadores, como He Came, He Saw, He Conquered; Get on Your Knees and Fight Like a Man; You Are My Rock... sem se esquecer das baladas Don't Let Your Heart Be Hardened e I Am Available.
Este disco chegou em primeiro lugar no Top Contemporary Christian e foi indicado ao Grammy Awards na categoria Best Gospel Performance (Duo Or Group), em 1988. Além disso, foi relançado em 2012, com o título "This Means War!: 25th Anniversary Edition", pela StarSong.
ON FIRE! (1988)
Counsel of the Holy e Somebody's Gonna Praise His Name são as faixas mais conhecidas deste álbum, sendo tocadas até hoje (inclusive, no histórico show deste ano!). Uma curiosidade é a música Homeless Few, que não tem uma letra "escancaradamente" cristã, mas se trata de uma crítica social sobre a situação dos moradores de rua.
O trabalho rendeu o 3º lugar no Top Contemporary Christian, e foi indicado ao Grammy Award de Best Gospel Performance, em 1989.
PETRA PRAISE: THE ROCK CRIES OUT (1989)
Este álbum foi muito bem recebido comercialmente, sendo o segundo mais vendido da carreira da banda e certificado com disco de ouro em 1998. Ganhou o Dove Award de Recorded Music Packaging, pela capa - note-se o "trocadilho visual" de que que a banda PETRA (que significa "rocha", em grego) está em cima de uma grande rocha. Este estilo de capa, com a foto da banda no lugar de uma arte estilizada (como se vinha fazendo até então), passaria a ser uma constante nos demais álbuns.
OBS: em 1992, a banda lançou PETRA EN ALABANZA, com a mesma capa (embora com uma paleta de cores mais amarelada) e mesmas faixas, mas regravadas e cantadas em espanhol. A curiosidade é que nenhum integrante da banda realmente sabia falar espanhol. John Schlitt apenas decorou a maneira de cantar em língua hispânica... e não se saiu mal!
BEYOND BELIEF (1990)
Aqui, temos uma banda que sabe o que quer fazer e onde quer chegar. A faixa inicial, Armed and Dangerous, se inicia em fade in e progredindo em peso, abrindo perfeitamente o álbum. Segue para I Am On the Rock, com um refrão perfeito para se cantar com o público, num show de arena. Creed até parece desacelerar o disco, até entrar a bateria e os riffs de Bob Hartman. A faixa Beyond Belief é um verdadeiro "hino" do PETRA! O tecladinho, o refrão, a letra, o solo de guitarra... tudo nesta música é composto com muito bom gosto. A partir dela, porém, o álbum passa a contar com faixas menos marcantes (embora sejam boas!), excetuando-se Love, que tem um coral muito interessante.
Curiosidade: a faixa Seen and Not Heard levantou algumas discussões de que seus riffs e refrões seriam "plagiados" de Heaven's On Fire, da banda KISS. Porém, nunca houve uma discussão judicial ou embate entre as bandas em razão disso.
Antes do lançamento deste disco, houve um curta-metragem, também chamado Beyond Belief, trazendo seis videoclipes intercalados na trama.
UNSEEN POWER (1991)
Não que seja um disco ruim! As faixas Destiny, Who's on the Lord's Side, Sight Unseen e, especialmente, Dance (acredito que a mais famosa deste set), são bem enérgicas, com bons riffs e um John Schlitt dando tudo de si. Este disco ganhou um Grammy Award de Best Rock Gospel Album e um Dove Award por Rock Recorded Song (pela música "Destiny"). Mas...
O que temos aqui é um dos álbuns menos marcantes da "fase Schlitt". A sonoridade diferente, com um hard rock flertando com o pop comercial, causa estranheza, especialmente para os fãs mais puristas do PETRA e por ser o trabalho imediatamente posterior a Beyond Belief. Enfim, é um bom disco... mas "quase" mediano para a discografia de uma banda do calibre do PETRA.
WAKE-UP CALL (1993)
Este trabalho atingiu o primeiro lugar do Top Contemporary Christian, e ganhou um Grammy Award por Best Rock Gospel Album. A partir daqui, o tecladista John Lawry deixaria a banda por motivos pessoais e Bob Hartman passaria a ter um papel mais "coadjuvante", assumindo a produção musical e gravando as guitarras, mas sem participar das turnês. Essa mudança de elenco seria sentida (e muito!) nos trabalhos posteriores do PETRA.
NO DOUBT (1995)
Mesmo sendo muito diferente dos álbuns anteriores, No Doubt ainda é um trabalho mais marcante e significativo do que Unseen Power e God Fixation (que viria três anos depois). Inclusive, foi indicado ao Grammy Award de Best Rock Gospel Album e ganhou o Dove Award de Rock Album, em 1996, além de chegar ao segundo lugar no Top Contemporary Christian.
PETRA PRAISE 2: WE NEED JESUS (1997)
Be of Good Cheer e, talvez, The Holiest Name, seriam as faixas mais "rockers" do álbum (e as duas foram compostas por Bob Hartman), enquanto o restante do álbum é marcadamente congregacional. A mais famosa é Lord, I Lift Your Name on High, originalmente escrita pelo compositor cristão Rick Founds. We Need Jesus, que dá título ao álbum, foi composta por John Elefante, cantada por ele mesmo e por Lou Gramm (ex-vocalista da banda de rock secular Foreigner). O encarte do álbum conta com as partituras de todas as músicas.
O disco é muito bom para a proposta dele, mas o PETRA passava por mais um período de instabilidade. O baixista Ronny Cates havia deixado a banda depois das turnês de No Doubt (supostamente por conflitos pessoais com John Schlitt) e substituído por Lonnie Chapin. Já os teclados foram executados por músicos de estúdio (não por um integrante do grupo). Bob Hartman, por seu turno, continuava exercendo aquele papel de "mero ajudante" da banda.
GOD FIXATION (1998)
Tirando o vocal muito característico de John Schlitt, nada neste disco "soa" PETRA. Nem o ritmo, nem os solos e os riffs de guitarra, nem os arranjos musicais de nenhuma faixa... nem o visual dos integrantes na capa! Tanto, que o álbum é praticamente "renegado" por muitos fãs da banda - embora tenha sido indicado ao Grammy Award por Best Rock Gospel Album e atingido o nº 10 do Top Contemporary Christian. Ainda há boas músicas, como as "pesadonas" God Fixation e A Matter of Time, e a agradável If I Had to Die for Someone. Mas, de fato, não é um álbum difícil de esquecer.
DOUBLE TAKE (2000)
O trabalho acabou sendo muito criticado por seus arranjos meio desajustados e versões acústicas muito diferentes das músicas originais. O disco abre com uma versão até interessante de Judas' Kiss, mas é "difícil" ouvir a Beyond Belief e a This Means War! deste álbum. Até Just Reach Out, que é uma música originalmente lenta (e que, teoricamente, seria mais "fácil" de orquestrar), ficou estranha. Apesar de tudo, Double Take acabou ganhando o Grammy Award de Best Rock Gospel Album, em 2001.
REVIVAL (2001)
Desta formação surgiu Revival, o vigésimo álbum de estúdios de PETRA e o terceiro da série "praise". Aqui, ao contrário dos álbuns "praises" anteriores, nenhuma faixa foi composta por integrantes da banda. Todas são regravações de músicas que já eram cantadas nas igrejas cristãs norte-americanas, inclusive "hinos" conhecidos mundialmente, como Amazing Grace (numa versão tão diferente e dinâmica que quase não se reconhece a música de John Newton) e Better Is One Day.
JEKYLL & HYDE (2003)
Aqui, a banda contou somente com dois membros: Schlitt e Hartman. Greg Bailey foi contratado para gravar o baixo de algumas músicas (e, por fim, acabou integrando a banda nas turnês e está nela até hoje). A bateria ficou ao encargo de Peter Furler, um dos donos da gravadora InPop e antigo integrante da banda Newboys. Tecladista? Nada de teclados aqui.
O disco marca mais uma renovação sonora do PETRA... mas, desta vez, funcionou! Trata-se do álbum mais pesado da discografia da banda, com músicas trabalhadas basicamente em cima de riffs de guitarra e vocais. Todas as composições são de autoria de Bob Hartman, que voltou com vigor renovado. Abrindo com a faixa Jekyll & Hyde, o disco quase assusta pela sonoridade agressiva. Ainda é hard rock (quase new metal), ainda é PETRA, mas causa perplexidade, especialmente pelos trabalhos anteriores e mais "açucarados" que vinham apresentando desde 1995. As demais faixas seguem neste rumo, exceto por 'Till Everything I Do, que é quase uma balada. Uma curiosidade: é o álbum mais curto de toda a discografia PETRA, com duração total que não passa muito de 30 minutos. O disco foi indicado ao Grammy Award por Best Rock Gospel Album, em 2003.
OBS: No mesmo ano, Petra lançou JEKYLL & HYDE EN ESPANOL, com a mesma gravadora, mesmas faixas, mas com músicas cantadas em espanhol.
Em 2005, PETRA entregou aos fãs o disco PETRA FAREWELL, gravado ao vivo - praticamente dizendo: "adeus, pessoal; e obrigado por tudo!" - e, a partir de então, seus membros combinaram se aposentar dos estúdios e das turnês.
Ocorre que, em 2010, Greg X Volz propôs uma reunião dos membros mais conhecidos do PETRA (especialmente Bob Hartman, Louie Weaver e John Lawry) para iniciar um projeto chamado CLASSIC PETRA - que acabou rendendo os álbuns Back To The Rock (em 2010) e Back To The Rock Live (em 2011). Em 2017, o grupo lançou Back To The Rock II, com o "selo" CLASSIC PETRA RESURRECTION. Embora estes trabalhos não estejam canonicamente na discografia do PETRA (vale rememorar que "Classic Petra" foi um projeto e, não, propriamente, o retorno da banda), tratam-se, todos, de regravações muito competentes de músicas da "fase Greg X Volz".
Pode-se dizer que Classic Petra acabou reavivando o PETRA! A banda não tem lançado novos álbuns (exceto coletâneas), mas John Schlitt (voz), Bob Hartman (guitarra), John Lawry (teclado), Greg Bailey (baixo) e Cristian Borneo (bateria) têm se reunido para turnês mundiais e shows esporádicos, especialmente em épocas de celebração - como o aniversário do PETRA. Inclusive, o Brasil assistiu duas dessas turnês: PETRA 40th YEARS (com show realizado apenas em Curitiba/PR, em setembro de 2012) e o recentíssimo PETRA 50 YEARS (com show realizado exclusivamente em São Paulo/SP, em dezembro de 2023).
São 22 álbuns de estúdio (contando as versões cantadas em espanhol - Petra en Alabanza e Jekyll and Hyde en Español), 18 coletâneas e 4 álbuns gravados ao vivo (em especial Petra Farewell), que renderam ao PETRA uma "cadeira cativa" na história do rock cristão e no coração de seus fãs.