A FORÇA PROBANTE DAS FAKE NEWS

Nada como acordar cedo e "bem-humorado" para trabalhar e, no meio do café da manhã, abrir o grupo da família no WhatsApp e se deparar com uma série de notícias (rigorosamente falsas) sobre feitos terríveis de determinado político, compartilhadas pelo tiozão mais "politizado" do grupo.

É fácil demais. A gente lê. Acredita no que lê. Não pesquisa nada, pois a coisa toda faz "muito sentido". Compartilha. E ainda sente a agradável sensação de dever cumprido: "Fiz minha parte informando os amigos!"

Os políticos, sejam de qual facção forem, são especialistas em espalhar fake news. Mentir já é com eles mesmos. O que seria espalhar umas notícias falsas para desmoralizar o adversário usando sua massa de manobra favorita na linha de frente? Inventa-se que o adversário vai acabar com os direitos trabalhistas; que vai descriminalizar o tráfico de drogas; que o candidato da direita odeia pobres, negros e mulheres; que o da esquerda está promovendo festivais imorais nas escolas infantis... e ainda acionam a Justiça Eleitoral quando uma fake new é contra eles mesmos!

E o eleitor, tão cético quando a notícia é contra seu político de estimação, aceita, com submissão assustadora, o "papel" de disseminador de fake news contra o outro candidato. Acredita, piamente, que está sendo arauto da verdade, quando está apenas assumindo o papel de "idiota útil".

Claro que fake news não se resumem à política. Há fake news de alienígenas. Fake news de Terra plana. Fake news de que os Estados Unidos vigiam os passos de todo mundo. Fake news na área da saúde, recomendando procedimentos medicinais absurdamente errados. Enfim, há fake news de tudo que é bizarrice. Mas a política, no Brasil, parece ser o campo mais fértil para esse tipo de bobagem.

Muita gente ainda usa uma notícia falsa como PROVA de que suas próprias suspeitas sobre o assunto estavam "certas"! Disseminam a mentira como se fosse verdade, estufam o peito, enchem a boca de saliva e dizem: "Tá vendo? Essa notícia prova o que eu já sabia!"

Procure e encontrará relatos de testemunhas "oculares"; vídeos no melhor estilo found footage, para dar mais "veracidade" de que foi filmado por um celular ou uma câmera portátil muito ruim; fotos; "recortes" de jornais. Com um pouco de sorte, vai achar até notícias veiculadas em canais de comunicação relativamente sérios, mas que, de vez em quando, se esquecem de checar a fonte das informações. Se você acredita em alguma teoria absurda (qualquer uma!) e buscar por "provas" disso na internet, vai encontrar.

E são PROVAS mesmo... pois, até que a pessoa finalmente se convença do contrário, aquela fake new, na cabeça dela, é verdadeira e merece ser difundida! A "força probante" daquela foto, daquela notícia, daquele vídeo (todos rigorosamente falsos) equivale à de um documento com atestado de legitimidade firmado em cartório. Depende, quase sempre, do expectador da "notícia" - vale dizer: se a fake new massageia-lhe o ego, corroborando aquilo que ele acredita, é PROVA. Caso contrário, até notícia verdadeira é presumivelmente falsa.

Não é impressionante que, apesar de vivenciarmos a "era da informação imediata", com fontes de notícias acessíveis na palma da mão (smartphones), tem gente - muita gente! - que prefere disseminar "desinformação"? E que as fake news correm muito mais rápido e com maior alcance do que as real news?

Não é intrigante tentar desvendar a condição de uma pessoa que sabe que as redes sociais é uma fonte de mentiras, que sabe pesquisar a veracidade de uma notícia (Google), que é cético e argumentativo em tantas coisas que lê... mas não se dá o "trabalho" de, em poucos cliques, confirmar a legitimidade de uma "notícia" antes de compartilhar?


Enfim, pra quem já estiver meio de saco cheio de ser feito de trouxa com fake news de grupos de família e de redes sociais, recomendo algumas dicas:

 

- Se o assunto é política, já vale desconfiança imediata! Especialmente, se for pra desmoralizar o candidato que o disseminador da notícia detesta. Não compartilhe sem pesquisar sobre o assunto.

- Se o assunto for saúde, pregando algum procedimento que você nunca ouviu falar antes, vale desconfiança imediata e redobrada! O que tem de gente maldosa querendo que os outros se ferrem não dá pra contar.

- Quanto mais sensacionalista a "notícia", maior a desconfiança. O mundo é um lugar maluco, mas a realidade é um pouco mais "normal" do que pintam as teorias conspiratórias.

- Se houver uma declaração de que aquela notícia saiu no Estado de São Paulo, na Folha de São Paulo, na revista Veja, na revista Times ou onde for, pesquise direto no site oficial do canal de comunicação. O Google oferece uma ferramenta bem interessante para pesquisar assuntos de dentro de um site. Basta digitar a palavra e acrescentar "site:"

- Se houver "informações" muita vagas, do tipo "o ministro/delegado/médico etc. disse isso, isso e isso" (sem dizer ministro de quê, delegado de quê e de onde, nem qual é o nome do sujeito), pode ter quase certeza de que é fake new. Costumam-se inserir dados de empresas ou pessoas influentes para dar mais "veracidade" à notícia. Mas, no fim, quase sempre é pura balela.

- Se a "notícia" for uma foto, faça a pesquisa reversa para descobrir a fonte da imagem e em quantos sites ela foi compartilhada. Alguém vai mostrar se a foto é fake ou não, em algum lugar. Não é difícil. Vá em Google, clique no ícone abaixo e siga as instruções.

-  Se tiver foto borrada ou de difícil intelecção vale desconfiança só por isso! Com os celulares do jeito que estão, com câmeras beirando 5mp, uma notícia bombástica com foto borrada não merece crédito. A mesma coisa com vídeos!

- Se for uma foto nítida, observe se ela é real. Com a disseminação da inteligência artificial, é possível criar qualquer imagem. Mas a I.A. ainda costuma errar bastante (especialmente no formato das mãos, nas feições faciais de pessoas e nas poses anatomicamente impossíveis). Claro que, neste caso, vai precisar de um trabalho mais digno de "xerox rolmes", mas pode compensar.

- Muitas vezes, a própria fonte da "notícia" já diz tudo. Se vem de site ou página de Facebook que tem uma certa fama de disseminar fake news, é quase certo de que aquela afirmação que você acabou de ler e quer compartilhar seja mentirosa.

- Se a "notícia" vem de uma postagem travada para comentários - mas aberta para compartilhamentos -, provavelmente é fake! O disseminador não quer que ninguém o desmascare. Só quer que a mentira se espalhe.

- Cheque a data da notícia. Tem muita notícia velha, tirada de fontes confiáveis, mas compartilhada como se fosse atual para atribuir o feito a algum político ou pessoa que não tem nada a ver com o assunto.

 - Há dois sites (aparentemente confiáveis, mas não ponho a mão no fogo por nada que vem da internet) que eu até recomendo: E-Farsas e Boatos. É possível encontrar de tudo o que é bobagem, fake news, farsas, hoax, teorias conspiratórias e coisas do tipo.

- Por fim, na dúvida, não compartilhe!

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